Sou
tudo que os meus vinte e um anos me trouxeram. Sou uma coleção de
erros, que se aglomeraram e construíram minha essência, minhas certezas,
ideologias e caráter. Já fui a prepotência de pensar que sei tudo da
vida, hoje eu sou a senhora só da minha razão. Aprendi, aos trancos, a
importância da flexibilidade, porque a verdade é só um ponto de vista.
Aprendi também a conjugar o verbo ceder, principalmente
na primeira pessoa do singular e confesso que esse é um exercício
diário. A cada dia aprendo mais e sei menos. Sempre que me aprofundo
demais nas coisas, penso automaticamente na frase “a ignorância é uma
bênção”. É mesmo. De longe tudo é tão mais bonito e nada dói. Mas sem a
dor, talvez eu ainda fosse a garotinha de laço cor de rosa, no pátio do
intervalo, tendo certeza que uma gota é o oceano. Eu já teria sido
engolida pela imensidão que é viver. Há pouco tempo atrás eu tava
planejando a minha vida adulta e, de repente, já não posso mais
transferir minhas responsabilidades e culpas pra amanhã. E foi muito
difícil conseguir me posicionar pro mundo. Pra todo mundo tão viciado em
apontar o dedo, ignorar os acertos e te crucificar pelo resto da vida
pelos erros, mesmo se forem pequenos. Já me apaixonei por caras
desinteressantes e jurei que eram os amores da minha vida. Já acreditei
em promessas absurdas, em absolutamente tudo que me era dito, porque
nunca entendi a necessidade de mentir. Mas as pessoas precisam e é isso,
não tem porquê. Fiquei desacreditada. Foi complicado aprender a dizer
“Não” e pareceu impossível prolongar a sentença: “Não, assim eu não
quero. Isso não me faz bem, então não vou deixar que me faça mal.
Tchau.” Depois ir embora ficou tão fácil, que a dificuldade era ficar.
Virei impermanente.
Tentei segurar as mãos de pessoas que tentavam
segurar o mundo, fiquei sem forças, odiei a liberdade. De vodka em
vodka, vazio em vazio, me vi abraçando o mundo também. Virei libertina.
Com o mesmo discurso de desapego e vida breve que eu sempre detestei,
mas começou a fazer muito sentido e me parecia muito justo levando em
conta o gosto de cada lágrima que eu já senti. Voar não doía, viciei. E
no céu, entre as nuvens, é muito fácil confundir valores, embaralhar as
prioridades e se perder. Eu também quase me perdi. Amigos de balada não
são amigos. Meus amigos de verdade são parte de mim e merecem o topo
das minhas prioridades. Minha família é o bem mais precioso que eu tenho
na vida. Não vale a pena se fechar pro mundo, porque as coisas boas são
tão maiores que as ruins. Por fim, tô aprendendo que desapego é uma
dádiva, de fato. Faz milagres, mas exige uma certa precaução e medida. A
gente tende a querer desapegar de Deus e o mundo, quando deveria
desapegar só do que faz mal. Felicidade não é uma utopia ou um amanhã
que sempre fica pra amanhã. Felicidade é agora, é cada minuto com quem
quer meu bem, quem tá do meu lado. Felicidade é ser quem eu sou, quem eu
me transformei, em meio à tanta esquina errada e gente querendo me
puxar pra trás. Hoje eu sou livre. E não tô me referindo á status de
relacionamento não. Sou livre porque me despi dos meus medos, das minhas
culpas e armaduras. Porque me desculpei por não ser perfeita e parei de
me cobrar isso. Sou livre pra escolher meu destino, mudar de opinião e
me reinventar sempre que achar necessário. Sou livre e aceito as minhas
consequências, porque aprendi a ter e viver meus vinte e poucos anos.
MF, sempre me descrevendo
Foto: Marcelo Gigante